Foto de Juliana Vaz Rodrigues |
Nos primórdios, o instinto natural – ou
animal, se preferirem - era bem forte. Hoje, principalmente para nós, mulheres,
parece que ele foi pra escanteio. Somos,
em nossa maioria, “domesticadas” pela
sociedade e pelas normas vigentes. E eu me pergunto: onde isso nos leva? Bom,
me atrevo a dizer que deixamos de lado quem somos – em nossa essência – e nos
tornamos apenas um rabisco do que podemos (na verdade) ser.
É. Leio minhas palavras acima, penso nos
caminhos que trilhei e – com todo o respeito a mim – admito: meu lado “loba”
andou bem negligenciado. Ou, melhor dizendo, ele estava (ou ainda está) preso,
louco para sair, tomar as rédeas e me levar pra frente. A um encontro real
comigo mesma.
Lembro da época em que me senti mais EU em
toda a minha vida. Foi quando tinha uns 24 anos, terminando a faculdade. Eu
tinha orgulho – muito orgulho das minhas ideias inovadoras. Dos meus valores
(que às vezes não eram bem aceitos por serem meio “revolucionários”). Do meu
lado selvagem. Da minha rebeldia. Da minha liberdade total de ser eu mesma.
Hoje eu vejo que – por muitas razões tais
como insegurança, necessidade de ser aceita – eu calei meu lado loba para me
adequar a algo que eu imaginava importante. Eu queria agradar mais, chocar menos
e me encaixar socialmente, mesmo porque foi um período em que o foco se voltou
muito para mim (tinha um namorado artista que ficou famoso) e não só eu, quanto
ele também, não sabíamos lidar com toda
aquela mídia e mudanças.
Mas hoje, olhando para trás, vejo que era uma
necessidade minha na época, e não é o que me satisfaz agora. Não mesmo. Ser
quem eu sou, com toda a minha alma, é meu melhor presente. E essa vontade de
ser eu mesma – e me buscar - é maior que tudo. Tenho saudades de mim, do meu
lado selvagem, da minha liberdade de SER sem querer agradar, de pagar o preço
que for porque – convenhamos – ser quem a gente é, às vezes, representa nadar
contra a maré. Mas, não me importo...
Sei que muitos vão torcer o nariz, mas meu
lado loba me mostrou os dentes e – agora que eu me reencontrei – eu não vou me
largar mais.
Foto de Marinho Antunes |
SOBRE A AUTORA:
Escritora e compositora, Fernanda Mello ficou conhecida por seu blog Coração na Boca e por suas inúmeras letras para bandas como Jota Quest, Tianastácia, Wanessa Camargo, Kadu Vianna, Bruna Garcia (entre outros), incluindo sucessos como: “Só hoje, “O que eu também não entendo”, “Mais uma vez”. Ao todo, são mais de 30 músicas gravadas.
Em 2009, lançou seu primeiro livro de crônicas, Princesa de Rua e, este ano, criou um novo formato para seus textos: as “Crônicas digitais”. Atualmente, Fernanda trabalha como jornalista e revisora e também em seus novos livros que pretende lançar em breve. Afinal, para essa mineira só uma coisa importa: ESCREVER.